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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Traduzir jogos de palavras: diversão ou tortura?

Dependendo do posto de vista do tradutor, um jogo de palavras pode ser um desafio delicioso ou um pesadelo. Depende do seu humor e do quanto você gosta de ter de fritar os miolos para achar boas soluções.

Há pouco tempo, eu estava traduzindo um livro para grávidas e havia um capítulo dedicado à escolha do nome do bebê. Um dos conselhos era: evite nomes que sejam jogos de palavras. Os exemplos eram Teresa Green (que soa como “trees are green/árvores são verdes”), Holly Wood (autoexplicativo) e Wendy House (o nome que se dá para aquela casinha de criança que algumas pessoas têm no quintal).

No mesmo capítulo, o livro aconselhava a mamãe a pensar na sigla formada pelo nome do filho, para evitar que virasse uma palavra feia ao ser bordada no uniforme e na mochila. O bom exemplo era Jane Olivia Young (JOY/alegria) e o mau exemplo era Freya Amanda Thomas (FAT/gorda).

Como resolver isso?

Eu conheço muitos nomes engraçadinhos, em que o jogo de palavras cria um duplo sentido, mas... todos inadequados para menores de 18 anos (e para o livro em questão)! E os amigos consultados também só conheciam essas versões impróprias.

...

Aposto que vocês também se lembraram de alguns engraçadinhos, rs.

Voltando...

Depois de muita pesquisa na internet e tentativas frustradas, fiquei com Caio do Valle e Décio Machado para os jogos de palavras (acabei deixando apenas dois, pois não achei um terceiro que fosse tão bom... e acho que a questão ficou bem explicada com esses).

Para as siglas, escolhi: Sônia Oliveira Lima (SOL) e Eric Cintra Aguiar (ECA).

O que acharam?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Resenha de livro: A jogadora de xadrez

Vinte quartos, quarenta camas, oitenta toalhas brancas; um número variável de cinzeiros a esvaziar.*

Essa é a rotina, no sentido mais monótono da palavra, de Eleni, a protagonista de A jogadora de xadrez (Bertina Henrichs, Editora Record). Camareira de um hotel na ilha grega de Naxos desde jovem e já na casa dos quarenta anos, Eleni tem uma vida pacata e sem brilho ao lado do marido e dos dois filhos. Até o dia em que um alegre casal francês se hospeda no hotel onde ela trabalha e...

Ao entrar no quarto do casal parisiense para limpá-lo, Eleni esbarra em um tabuleiro de xadrez com uma partida iniciada e derruba uma das peças. Ela olha o jogo e fica frustrada por não saber onde colocar a peça caída. A partir de então, Eleni não consegue esquecer o casal francês, suas risadas, seus abraços e o jogo de xadrez que compartilham.

Decidida a ter um pouco daquele charme em sua vida, compra um tabuleiro eletrônico, desses nos quais podemos jogar sozinhos contra a máquina, para presentear seu marido, Panis. Como na sua cidade ninguém joga xadrez, mas todo mundo comenta a vida dos vizinhos, Eleni retorna à cidade dos pais e pede a um antigo professor que faça a compra por ela, assim, longe das vistas do povo.

Panis dá pouca atenção ao tabuleiro, mas Eleni não desiste de aprender a jogar xadrez. Ao perceber que, mesmo com o tabuleiro eletrônico, não conseguirá aprender sozinha, volta para a casa do professor, Kouros. E, assim, ela inicia seu caminho em busca do conhecimento, que abrirá janelas pelas quais ela nunca sequer espiou antes. O jogo de xadrez conduz Eleni a querer mais, descobrir mais e ser mais.

O livro de Bertina Henrichs é muito leve, delicado e tranquilo. Mesmo quando a cidade inteira descobre para onde Eleni quando o ônibus para a cidade onde nasceu e passa a olhar feio para ela. Mesmo quando seu marido sente vergonha dela e chega a segui-la. Mesmo quando ela tem de esconder o tabuleiro na geladeira.

É um livro simples, mas cativante. Que mostra como o conhecimento desperta uma nova vida dentro de nós.

Nota: 3 de 5

*Tradução minha. Li o livro em francês, não sei como ficou na tradução oficial para o português.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Casa que inspirou Fitzgerald pode ser demolida

Uma das casas que inspiraram F. Scott Fitzgerald a escrever O Grande Gatsby pode ser demolida.



A mansão, contruída em 1902 e chamada Lands End, fica em Long Island, tem mais de 50 mil metros quadrados e conta com 25 quartos. Mas tem um problema, o proprietário não encontra um comprador.

A manutenção diária da casa é avaliada em 4.500 dólares. O dono, Bert Brodsky, tinha a intenção de morar lá com seus quatro filhos adultos, mas eles vetaram a ideia. Agora, ela está à venda por 28 milhões de dólares e a reforma necessária para adequá-la aos confortos da vida moderna poderiam custar até mais dois milhões.

Por isso, ela agora pode ser demolida, colocando abaixo toda a história que representa. Além da inspiração para um grande romance da língua inglesa, ela foi palco de festas prestigiadas por Dorothy Parker, o duque de Windsor, Grouxo Marx e os próprios Fitzgerald.

Uma pena...


Fontes: Folha Ilustrada e The New York Times.

terça-feira, 1 de março de 2011

Meu personagem favorito de livro

Aproveitando a ideia bacana lançada no blog Livros e Afins, resolvi participar da blogagem coletiva: Meu personagem preferido de livro.


Fiquei alguns dias sem computador, então, estou meio atrasada, mas acho que o post vale mesmo assim, rs.


A pergunta é muito difícil, pois quem gosta de ler com certeza já se encantou com muitos personagens. Na verdade, eu acho que o trunfo de um livro está em seus personagens serem cativantes. Ninguém aguenta ler uma história em que nenhum dos personagens nos envolve, seja por odiarmos ou amarmos o que ele faz.

No entanto, se for para ser sincera mesmo, tenho que admitir que, até hoje, o personagem que mais me marcou foi um que eu conheci aos treze anos. E nenhum ainda tirou o posto dele.


Imaginem. Um homem fino e elegante... riquíssimo e misterioso. Ninguém sabia da existência dele, mas ele entra na alta sociedade francesa com fogos de artifício e um título de nobre. Tem um passado escuro, foi preso depois de ser traído por pessoas próximas e enriqueceu ao achar um tesouro. Aprendeu latim, história, geografia... dentro da sua cela. E jurou vingança. Ele voltou, rico e poderoso, para destruir um por um aqueles que o colocaram na cadeia.


Edmund Dantès, o Conde de Monte Cristo.

A história me envolveu tanto quando a li que eu cheguei a chorar em alguns trechos do livro. E aquele personagem ficou marcado. Mesmo sendo um homem com um propósito cruel, mesmo se associando a bandidos, mesmo seu criador não sendo considerado um nome da alta literatura.

Sim, porque Alexandre Dumas, também autor de Os Três Mosqueteiros e O Máscara de Ferro, nunca foi realmente aceito entre os gigantes da literatura francesa. Mas todos conhecem as suas histórias, não é mesmo?


Por isso, voto em Edmund Dantès. Meu personagem favorito. Misterioso, elegante, astuto... com sua capa negra e sua cartola.

Mas, só para não a única a escolher um personagem só, deixo uma menção honrosa aos cronópios de Júlio Cortázar e acrescento uma descrição desses seres apaixonantemente tolos e sonhadores:

“Quando os cronópios cantam suas canções preferidas, ficam de tal maneira entusiasmados que frequentemente se deixam atropelar por caminhões e ciclistas, caem da janela e perdem o que tinham nos bolsos e até a conta dos dias.”

Histórias de cronópios e de famas, Júlio Cortazar, tradução de Gloria Rodríguez, Editora Civilização Brasileira.

PS: Não assistam a nenhuma versão cinematográfica de O Conde de Monte Cristo. Não encontrei nenhuma boa até hoje. Algumas são até mesmo MUITO ruins.

* Ilustração tirada da capa da edição de Le Comte de Monte-Cristo da editora Pocket (www.pocket.fr).

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O Brasil escapa do fechamento das livrarias?


Quem se lembra da história do filme Mensagem para Você?

- Ah, é um filme de mulherzinha em que a Meg Ryan e o Tom Hanks se apaixonam pela internet.

Não. Quero dizer, é. Mas não é só isso.

No filme, a personagem de Meg Ryan é dona de uma pequena livraria na esquina. Fundada pela sua mãe, essa livraria atende seus clientes de maneira muito informal, calorosa e íntima. Tom Hanks, por outro lado, é dono de uma grande cadeia de megalivrarias, daquelas onde você encontra de tudo e os descontos são bastante atrativos. A pequena livraria da esquina não tem condições de dar tantos descontos e, por isso, fecha as portas.

Para quem ficou com muita raiva do personagem do Tom Hanks e sua livraria impessoal e fria, talvez agora venha a revanche. Grandes redes de livrarias fora do Brasil estão fechando diversas lojas, pedindo concordata e descobrindo no livro eletrônico um terrível concorrente.

Quem já veio a São Paulo e entrou na Livraria Cultura da Avenida Paulista dificilmente não ficou boquiaberto. O lugar é lindo, a oferta de livros é quase incontável e nem nos lembramos mais daquelas livrarias pequeninas e intimistas. Queremos mesmo é vivenciar a experiência de estarmos cercados por livros por todos os lados.

O que não falta na Livraria Cultura são clientes. Eu sei, eu trabalhei lá. É loucura.
Mas tenho visto cada vez mais notícias de livrarias fechando as portas. Nos Estados Unidos, a rede Borders, uma das maiores representantes das megalivrarias no país, pediu concordata. Está devendo rios de dinheiros para editoras e terá de fechar 30% das suas lojas.

Além disso, recebi há alguns dias a notícia de que a maior rede de livrarias da Austrália, a Angus & Robertson, não está conseguindo lidar com a concorrência com os livros da Amazon (que faz até entregas sem frete pelo país) e entrou em “administração voluntária”, o que, na lei australiana, é um passo antes da concordata.

E, no mês passado, Luiz Schwarcz interrompeu suas férias para postar, no blog da Companhia das Letras, a notícia do fechamento da melhor loja (na sua opinião) da gigante Barnes & Noble.

Enquanto isso, desde que saí de lá, a Livraria Cultura abriu pelo menos mais cinco lojas pelo país e planeja abrir ainda mais.

Ahn?

É, dizem que, no Brasil, as coisas chegam um pouco mais tarde. O livro eletrônico ainda não estourou por aqui, os leitores ainda são caros e as lojas virtuais (mesmo que vendam livros de papel) são ainda das próprias livrarias. Mas vocês acham que demora?

Pensem bem, quantas lojas de CDs ainda vemos por aí? E quantos CDs vocês compraram ano passado?

O futuro tarda, mas não falha. Logo aproveitaremos todos os benefícios do livro eletrônico (na minha opinião, são muitos e logo mais escreverei a respeito), mas também lidaremos com as desvantagens.

Querem um conselho? Vão dar uma volta na livraria ainda hoje, ok?! Não demorem muito para fazer isso.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A tradução das máquinas

Vira e mexe, aparece uma profissão ameaçada pela tecnologia. Tal máquina vai substituir tal operário, tal programa vai substituir tal funcionário, etc.

Atualmente, tenho visto cada vez mais gente elogiar os tradutores eletrônicos. Aqueles programas que leem o texto em um idioma e já dão a tradução em outro.

Durante muito tempo, os tradutores (humanos) ficaram no conforto de saber que esses programas estavam muito longe de ter qualidade ou apresentar algum perigo. Porém, de um tempo para cá, essa segurança foi abalada.

Não que a qualidade dos tradutores automáticos tenha melhorado. É fácil, pegue qualquer texto e jogue no Google Translator. O resultado ainda é desastroso. O problema é que ele é menos desastroso do que era há algum tempo. E, como todos nós sabemos, a tecnologia tende sempre a melhorar.

Por exemplo, joguei um texto sobre a vida da Jane Austen, retirado da Wikipedia, no Goggle. Vejam só:

She wrote two additional novels, Northanger Abbey and Persuasion, both published posthumously in 1818, and began a third, which was eventually titled Sanditon, but died before completing it.

Ela escreveu dois romances adicionais, Abadia de Northanger e Persuasão, ambos publicados postumamente em 1818, e iniciou um terceiro, que acabou sendo intitulada Sanditon, mas morreu antes de concluí-lo.


Nada mal, certo? Tirando um pequeno erro de concordância (destacado), o texto poderia passar muito bem. Até os títulos dos livros estão corretos.

No entanto, vejam este parágrafo:

Austen later compiled “fair copies” of 29 of these early works into three bound notebooks, now referred to as the Juvenilia, containing pieces originally written between 1787 and 1793.

Austen posteriormente compilados “cópias justo” de 29 destes primeiros trabalhos em três notebooks ligados, agora referido como o Juvenilia, contendo peças escritas originalmente entre 1787 e 1793.


Ficou quase sem sentido.

Acreditem, já peguei exemplos bem piores do que isso, principalmente quando lidamos com textos técnicos, que trazem mais jargões e termos específicos.

Uma colega recentemente revisou uma tradução automática em que a palavra file (arquivo) aparecia todas as vezes traduzida como lima (uma outra tradução, mas que não tinha nada a ver com o contexto do arquivo).

Algumas coisas o computador simplesmente não tem como perceber. E, se é difícil perceber termos, imagine as sutilezas e o lado artístico do texto escrito.

Porém, de nada adianta simplesmente dizermos que o computador não consegue. Ele não consegue ainda. Talvez, ele nunca consiga totalmente, mas ele vai conseguir. Simplesmente porque tem gente investindo nisso, pesquisando e aprimorando as ferramentas atuais. Outras profissões já sofreram com o avanço das máquinas (ou alguém ainda precisa daquelas telefonistas que ligavam mil cabos e conectavam um telefone ao outro lá no início do século XX?).

O escritório onde trabalhei até 2010 já estava recebendo de clientes o pedido de revisão de tradução automática e não mais o combo tradução+revisão.

E revisar tradução automática não é fácil. É como revisar um tradutor muito ruim. Não só você tem que retraduzir a frase que está completamente sem sentido, mas você tem que, primeiro, esquecer a péssima tradução que você leu, reler o texto original e, aí sim, construir a tradução certa. É mais trabalhoso e demorado que uma revisão convencional. E, por isso, na minha opinião, deveria custar mais caro.

À medida que a tradução automática for evoluindo, não duvido que passemos a revisores de tradução, em vez de tradutores. E, para isso, vamos ter que ser muito melhores do que a máquina.

Ela está evoluindo. E nós, estamos também?

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Duas notinhas rápidas

A melhor frase de amor

Às vésperas do dia dos namorados na Europa (14 de fevereiro), os britânicos votaram na frase mais romântica da literatura inglesa.

A Warner Home Video fez uma enquete com 2.000 adultos para promover o lançamento em DVD do filme Amor a distância.

A vencedora foi uma frase do livro O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë:

"Do que quer que nossas almas sejam feitas, a minha e a dele são iguais."
(tradução minha)

Realmente, não consigo imaginar personagens que amem com mais fervor (e descontrole) do que os personagens de Emily.

Leia mais (em inglês)

Provocando a censura

Quem acompanhou o caso dos livros de Monteiro Lobato tendo partes modificadas por trazerem expressões consideradas racistas (principalmente em relação à negra Tia Nastácia) vai reconhecer o problema:

Mark Twain, autor de As aventuras de Huckleberry Finn (entre outros livros que marcaram minha infância), passou pela mesma censura. Tiraram de seus livros a palavra nigger, termo hoje considerado pejorativo para se referir a alguém negro. Sendo Huckleberry Finn um livro em que um dos principais personagens é um escravo fugitivo, imaginem o quanto o texto será dilascerado!

Mas os comediantes Gabriel Diani e Etta Devine acharam que só subsitituir a palavra nigger por slave (escravo), como querem as editoras, era muito pouco e resolveram lançar uma nova edição do livro usando a palavra... robô!
Segundo eles, robôs estão na moda e a palavra é muito mais bonita e menos pejorativa que nigger.

Confiram as explicações deles e um vídeo aqui (em inglês)

Alguém não achou graça em brincarem com Huck Finn!