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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O Brasil escapa do fechamento das livrarias?


Quem se lembra da história do filme Mensagem para Você?

- Ah, é um filme de mulherzinha em que a Meg Ryan e o Tom Hanks se apaixonam pela internet.

Não. Quero dizer, é. Mas não é só isso.

No filme, a personagem de Meg Ryan é dona de uma pequena livraria na esquina. Fundada pela sua mãe, essa livraria atende seus clientes de maneira muito informal, calorosa e íntima. Tom Hanks, por outro lado, é dono de uma grande cadeia de megalivrarias, daquelas onde você encontra de tudo e os descontos são bastante atrativos. A pequena livraria da esquina não tem condições de dar tantos descontos e, por isso, fecha as portas.

Para quem ficou com muita raiva do personagem do Tom Hanks e sua livraria impessoal e fria, talvez agora venha a revanche. Grandes redes de livrarias fora do Brasil estão fechando diversas lojas, pedindo concordata e descobrindo no livro eletrônico um terrível concorrente.

Quem já veio a São Paulo e entrou na Livraria Cultura da Avenida Paulista dificilmente não ficou boquiaberto. O lugar é lindo, a oferta de livros é quase incontável e nem nos lembramos mais daquelas livrarias pequeninas e intimistas. Queremos mesmo é vivenciar a experiência de estarmos cercados por livros por todos os lados.

O que não falta na Livraria Cultura são clientes. Eu sei, eu trabalhei lá. É loucura.
Mas tenho visto cada vez mais notícias de livrarias fechando as portas. Nos Estados Unidos, a rede Borders, uma das maiores representantes das megalivrarias no país, pediu concordata. Está devendo rios de dinheiros para editoras e terá de fechar 30% das suas lojas.

Além disso, recebi há alguns dias a notícia de que a maior rede de livrarias da Austrália, a Angus & Robertson, não está conseguindo lidar com a concorrência com os livros da Amazon (que faz até entregas sem frete pelo país) e entrou em “administração voluntária”, o que, na lei australiana, é um passo antes da concordata.

E, no mês passado, Luiz Schwarcz interrompeu suas férias para postar, no blog da Companhia das Letras, a notícia do fechamento da melhor loja (na sua opinião) da gigante Barnes & Noble.

Enquanto isso, desde que saí de lá, a Livraria Cultura abriu pelo menos mais cinco lojas pelo país e planeja abrir ainda mais.

Ahn?

É, dizem que, no Brasil, as coisas chegam um pouco mais tarde. O livro eletrônico ainda não estourou por aqui, os leitores ainda são caros e as lojas virtuais (mesmo que vendam livros de papel) são ainda das próprias livrarias. Mas vocês acham que demora?

Pensem bem, quantas lojas de CDs ainda vemos por aí? E quantos CDs vocês compraram ano passado?

O futuro tarda, mas não falha. Logo aproveitaremos todos os benefícios do livro eletrônico (na minha opinião, são muitos e logo mais escreverei a respeito), mas também lidaremos com as desvantagens.

Querem um conselho? Vão dar uma volta na livraria ainda hoje, ok?! Não demorem muito para fazer isso.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A tradução das máquinas

Vira e mexe, aparece uma profissão ameaçada pela tecnologia. Tal máquina vai substituir tal operário, tal programa vai substituir tal funcionário, etc.

Atualmente, tenho visto cada vez mais gente elogiar os tradutores eletrônicos. Aqueles programas que leem o texto em um idioma e já dão a tradução em outro.

Durante muito tempo, os tradutores (humanos) ficaram no conforto de saber que esses programas estavam muito longe de ter qualidade ou apresentar algum perigo. Porém, de um tempo para cá, essa segurança foi abalada.

Não que a qualidade dos tradutores automáticos tenha melhorado. É fácil, pegue qualquer texto e jogue no Google Translator. O resultado ainda é desastroso. O problema é que ele é menos desastroso do que era há algum tempo. E, como todos nós sabemos, a tecnologia tende sempre a melhorar.

Por exemplo, joguei um texto sobre a vida da Jane Austen, retirado da Wikipedia, no Goggle. Vejam só:

She wrote two additional novels, Northanger Abbey and Persuasion, both published posthumously in 1818, and began a third, which was eventually titled Sanditon, but died before completing it.

Ela escreveu dois romances adicionais, Abadia de Northanger e Persuasão, ambos publicados postumamente em 1818, e iniciou um terceiro, que acabou sendo intitulada Sanditon, mas morreu antes de concluí-lo.


Nada mal, certo? Tirando um pequeno erro de concordância (destacado), o texto poderia passar muito bem. Até os títulos dos livros estão corretos.

No entanto, vejam este parágrafo:

Austen later compiled “fair copies” of 29 of these early works into three bound notebooks, now referred to as the Juvenilia, containing pieces originally written between 1787 and 1793.

Austen posteriormente compilados “cópias justo” de 29 destes primeiros trabalhos em três notebooks ligados, agora referido como o Juvenilia, contendo peças escritas originalmente entre 1787 e 1793.


Ficou quase sem sentido.

Acreditem, já peguei exemplos bem piores do que isso, principalmente quando lidamos com textos técnicos, que trazem mais jargões e termos específicos.

Uma colega recentemente revisou uma tradução automática em que a palavra file (arquivo) aparecia todas as vezes traduzida como lima (uma outra tradução, mas que não tinha nada a ver com o contexto do arquivo).

Algumas coisas o computador simplesmente não tem como perceber. E, se é difícil perceber termos, imagine as sutilezas e o lado artístico do texto escrito.

Porém, de nada adianta simplesmente dizermos que o computador não consegue. Ele não consegue ainda. Talvez, ele nunca consiga totalmente, mas ele vai conseguir. Simplesmente porque tem gente investindo nisso, pesquisando e aprimorando as ferramentas atuais. Outras profissões já sofreram com o avanço das máquinas (ou alguém ainda precisa daquelas telefonistas que ligavam mil cabos e conectavam um telefone ao outro lá no início do século XX?).

O escritório onde trabalhei até 2010 já estava recebendo de clientes o pedido de revisão de tradução automática e não mais o combo tradução+revisão.

E revisar tradução automática não é fácil. É como revisar um tradutor muito ruim. Não só você tem que retraduzir a frase que está completamente sem sentido, mas você tem que, primeiro, esquecer a péssima tradução que você leu, reler o texto original e, aí sim, construir a tradução certa. É mais trabalhoso e demorado que uma revisão convencional. E, por isso, na minha opinião, deveria custar mais caro.

À medida que a tradução automática for evoluindo, não duvido que passemos a revisores de tradução, em vez de tradutores. E, para isso, vamos ter que ser muito melhores do que a máquina.

Ela está evoluindo. E nós, estamos também?

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Duas notinhas rápidas

A melhor frase de amor

Às vésperas do dia dos namorados na Europa (14 de fevereiro), os britânicos votaram na frase mais romântica da literatura inglesa.

A Warner Home Video fez uma enquete com 2.000 adultos para promover o lançamento em DVD do filme Amor a distância.

A vencedora foi uma frase do livro O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë:

"Do que quer que nossas almas sejam feitas, a minha e a dele são iguais."
(tradução minha)

Realmente, não consigo imaginar personagens que amem com mais fervor (e descontrole) do que os personagens de Emily.

Leia mais (em inglês)

Provocando a censura

Quem acompanhou o caso dos livros de Monteiro Lobato tendo partes modificadas por trazerem expressões consideradas racistas (principalmente em relação à negra Tia Nastácia) vai reconhecer o problema:

Mark Twain, autor de As aventuras de Huckleberry Finn (entre outros livros que marcaram minha infância), passou pela mesma censura. Tiraram de seus livros a palavra nigger, termo hoje considerado pejorativo para se referir a alguém negro. Sendo Huckleberry Finn um livro em que um dos principais personagens é um escravo fugitivo, imaginem o quanto o texto será dilascerado!

Mas os comediantes Gabriel Diani e Etta Devine acharam que só subsitituir a palavra nigger por slave (escravo), como querem as editoras, era muito pouco e resolveram lançar uma nova edição do livro usando a palavra... robô!
Segundo eles, robôs estão na moda e a palavra é muito mais bonita e menos pejorativa que nigger.

Confiram as explicações deles e um vídeo aqui (em inglês)

Alguém não achou graça em brincarem com Huck Finn!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Duzentos anos do livro Razão e sensibilidade

Este ano, comemoramos o bicentenário de Sense and Sensibility, de Jane Austen. Lançado em 1811, esse livro recebeu, em português, os títulos Razão e sensibilidade, Razão e sentimento e Sensibilidade e bom senso.


Embora as explicações linguísticas para justificar que Razão e sentimento é uma tradução mais precisa sejam convincentes, eu não consigo me desprender do título que ficou marcado em minha cabeça, Razão e sensibilidade (em grande parte, por causa do filme, é claro).


Quando comecei a ler Jane Austen, escrevi em um outro blog que tinha uma relação de amor e ódio com os livros dela. Sempre sabia como iam acabar, mas entrava e saía desesperadamente das livrarias procurando mais um.


Essa afirmação foi feita porque, na superfície, os livros de Jane Austen são histórias românticas que começamos a ler já sabendo quem vai casar com quem. Essa foi a minha primeira leitura, mas, notem, mesmo assim eu sentia uma forte atração por esses romances.
Bem, espero que Jane me desculpe. Tambem tive uma reação equivocada ao ler pela primeira vez Guimarães Rosa e Macunaíma.


A verdade é que os livros de Jane Austen estão repletos de ironias e revelações sobre a sociedade da sua época (ela viveu de 1775 a 1817), discussões sobre ética e moral e personagens que nunca têm diálogos vazios.


Um sentimento interessante ao ler esses livros é que parece que Jane está ao nosso lado dizendo: isto sim, está correto, mas isto, oh, como ela pôde?


Ou seja, por meio dos vilãos e mocinhos conhecemos Jane e a maneira como se portava. Sei que todos os autores imprimem sua personalidade nos livros, mas nunca senti em outros o que sinto em Jane. É como se ela nos guiasse pela história mostrando o que uma boa moça e um homem de caráter deveriam fazer. E sem ser chata.


E, assim, em uma situação difícil, perguntem-se: o que Jane Austen faria?


Elegantes e sinceros, os romances de Jane costumam acompanhar seus leitores por toda a vida, sendo lidos e relidos. Eu mesma já sou assim.


Ah, mas voltando ao bicentenário de Sense and Sensibility. Cheguei um pouco tarde. Reli esse livro no finalzinho de 2010 e, este ano, darei um espaço para outro romance de Jane. Mas vou acompanhar as comemorações.


Para quem quiser, indico dois ótimos blogs: Austenprose (em inglês) e Jane Austen em português.


Para finalizar, produtos interessantes da loja online CafePress com o tema Jane Austen. Tem outros ótimos por lá, procurem!