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domingo, 13 de fevereiro de 2011

A tradução das máquinas

Vira e mexe, aparece uma profissão ameaçada pela tecnologia. Tal máquina vai substituir tal operário, tal programa vai substituir tal funcionário, etc.

Atualmente, tenho visto cada vez mais gente elogiar os tradutores eletrônicos. Aqueles programas que leem o texto em um idioma e já dão a tradução em outro.

Durante muito tempo, os tradutores (humanos) ficaram no conforto de saber que esses programas estavam muito longe de ter qualidade ou apresentar algum perigo. Porém, de um tempo para cá, essa segurança foi abalada.

Não que a qualidade dos tradutores automáticos tenha melhorado. É fácil, pegue qualquer texto e jogue no Google Translator. O resultado ainda é desastroso. O problema é que ele é menos desastroso do que era há algum tempo. E, como todos nós sabemos, a tecnologia tende sempre a melhorar.

Por exemplo, joguei um texto sobre a vida da Jane Austen, retirado da Wikipedia, no Goggle. Vejam só:

She wrote two additional novels, Northanger Abbey and Persuasion, both published posthumously in 1818, and began a third, which was eventually titled Sanditon, but died before completing it.

Ela escreveu dois romances adicionais, Abadia de Northanger e Persuasão, ambos publicados postumamente em 1818, e iniciou um terceiro, que acabou sendo intitulada Sanditon, mas morreu antes de concluí-lo.


Nada mal, certo? Tirando um pequeno erro de concordância (destacado), o texto poderia passar muito bem. Até os títulos dos livros estão corretos.

No entanto, vejam este parágrafo:

Austen later compiled “fair copies” of 29 of these early works into three bound notebooks, now referred to as the Juvenilia, containing pieces originally written between 1787 and 1793.

Austen posteriormente compilados “cópias justo” de 29 destes primeiros trabalhos em três notebooks ligados, agora referido como o Juvenilia, contendo peças escritas originalmente entre 1787 e 1793.


Ficou quase sem sentido.

Acreditem, já peguei exemplos bem piores do que isso, principalmente quando lidamos com textos técnicos, que trazem mais jargões e termos específicos.

Uma colega recentemente revisou uma tradução automática em que a palavra file (arquivo) aparecia todas as vezes traduzida como lima (uma outra tradução, mas que não tinha nada a ver com o contexto do arquivo).

Algumas coisas o computador simplesmente não tem como perceber. E, se é difícil perceber termos, imagine as sutilezas e o lado artístico do texto escrito.

Porém, de nada adianta simplesmente dizermos que o computador não consegue. Ele não consegue ainda. Talvez, ele nunca consiga totalmente, mas ele vai conseguir. Simplesmente porque tem gente investindo nisso, pesquisando e aprimorando as ferramentas atuais. Outras profissões já sofreram com o avanço das máquinas (ou alguém ainda precisa daquelas telefonistas que ligavam mil cabos e conectavam um telefone ao outro lá no início do século XX?).

O escritório onde trabalhei até 2010 já estava recebendo de clientes o pedido de revisão de tradução automática e não mais o combo tradução+revisão.

E revisar tradução automática não é fácil. É como revisar um tradutor muito ruim. Não só você tem que retraduzir a frase que está completamente sem sentido, mas você tem que, primeiro, esquecer a péssima tradução que você leu, reler o texto original e, aí sim, construir a tradução certa. É mais trabalhoso e demorado que uma revisão convencional. E, por isso, na minha opinião, deveria custar mais caro.

À medida que a tradução automática for evoluindo, não duvido que passemos a revisores de tradução, em vez de tradutores. E, para isso, vamos ter que ser muito melhores do que a máquina.

Ela está evoluindo. E nós, estamos também?

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